Por Nicholas Maciel Merlone
Publicado originalmente no Jornal O DIASP.
O Brasil abriga uma diversidade cultural inestimável, refletida em seus povos indígenas. Segundo o Censo Demográfico de 2022, a população indígena no país alcançou 1.693.535 pessoas, representando 0,83% da população total . Esse número quase dobrou em relação a 2010, evidenciando não apenas o crescimento populacional, mas também avanços metodológicos na identificação e reconhecimento dessas comunidades. (Dados do Censo 2022 revelam que o Brasil tem 1,7 milhão de indígenas — Fundação Nacional dos Povos Indígenas)
A Constituição Federal de 1988 marcou um divisor de águas ao reconhecer os direitos originários dos povos indígenas sobre as terras que tradicionalmente ocupam, conforme estabelecido no artigo 231. Esse dispositivo garante a posse permanente e o usufruto exclusivo das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. Além disso, o Brasil é signatário da Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que assegura o direito dos povos indígenas à consulta prévia, livre e informada sobre projetos que afetem suas terras e modos de vida.
Apesar desses avanços legais, os povos indígenas enfrentam desafios significativos. A proposta do "marco temporal", que busca restringir a demarcação de terras indígenas àquelas ocupadas na data da promulgação da Constituição, ameaça direitos já reconhecidos e ignora o histórico de expulsões e deslocamentos forçados. Essa medida foi alvo de protestos durante a COP16, onde líderes indígenas denunciaram a violência e a marginalização sofridas, mesmo em espaços internacionais destinados à discussão de políticas ambientais . (Si a los pueblos indígenas nos detienen en una cumbre de la ONU, imagínese lo que ocurre en nuestros territorios)
Além disso, a pressão por projetos de infraestrutura e exploração de recursos naturais em territórios indígenas, como a construção da rodovia BR-319 e a abertura de novas áreas para exploração petrolífera na Amazônia, coloca em risco não apenas os direitos desses povos, mas também a conservação ambiental. Estudos indicam que os territórios indígenas são fundamentais para a preservação da biodiversidade, sendo responsáveis por manter quase 45% das florestas amazônicas intactas . (Si a los pueblos indígenas nos detienen en una cumbre de la ONU, imagínese lo que ocurre en nuestros territorios)
O Censo de 2022 também revelou que mais da metade da população indígena vive em áreas urbanas, refletindo processos de migração e busca por melhores condições de vida. No entanto, essa urbanização não elimina as desigualdades enfrentadas por essas comunidades, que continuam a lutar por reconhecimento, acesso a serviços básicos e respeito às suas identidades culturais.
Diante desse cenário, é imperativo que o Estado brasileiro cumpra efetivamente as garantias constitucionais e internacionais relativas aos direitos dos povos indígenas. Isso inclui a demarcação e proteção de terras, a promoção de políticas públicas inclusivas e o respeito à autodeterminação dessas comunidades. Somente com ações concretas e comprometidas será possível assegurar a justiça histórica e a dignidade que os povos indígenas do Brasil merecem.
1. Autonomia indígena não deve ser confundida com soberania. Não deve haver um estado dentro do estado. Isso´só contribuiria para mante-los longe de qualquer melhoria. 2. O filósofo precisa lembrar que a França, a Inglaterra, Portugal e Espanha, EUA, Canadá e Austrália foram colonizados. O importante é ver o que resultou das colonizações.
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